O coração delator - Mini Resenha #0
Minha primeira mini resenha de um conto pois estou tentando entrar no mundo dos clássicos :) <3
O coração delator (título original: The Tell-tale Heart), também conhecido pelo título de “O coração denunciador” ou “O coração revelador” é um conto de terror escrito pelo autor Edgar Allan Poe, publicado pela primeira vez em 1843. Li a tradução de José Paulo Paes.
Considerado um clássico da literatura gótica, o conto aborda um crime pela perspectiva do assassino, que realiza múltiplas análise sobre sua própria condição psicológica no decorrer da história.
O conto começa com o assassino explicando o ocorrido ao leitor, desejando se explicar e justificar seus sentidos aguçados, mas pode também ser considerada como uma lembrança que o nosso narrador anônimo tem de seus crimes, visto que sua doença, o nervosismo, faz com que ouça sons do céu e do inferno .
Um conto curto, que não chega a atingir 10 páginas em diagramações mais amplas, mas que prende o leitor ao pedido insistente do narrador de crença. O narrador, ao invés de provar sua inocência, implora para que o leitor creia em sua sanidade.
Era um som fraco, rápido e surdo, semelhante ao tique-taque de um relógio enrolado em algodão.
Comparando o protagonista com Dostoiévski e Brooklyn 99
Por um lado, é quase como se ele fosse assombrado pelo Raskólnikov, o protagonista de Dostoiévski, que com sua escrita introspectiva, mostra como a culpa consome o protagonista, e como ele é quase atormentado não somente pelo crime, mas também pela ideia do crime, a sua concepção .Acho que por isso o nosso protagonista anônimo é tão assombrado pela possibilidade de ficar louco. Talvez, por saber que o que fez tem a capacidade de enlouquecer alguém, ele teme ser tratado como alguém louco.
Por outro lado, a sua busca pela sanidade me lembra de um episódio de Brooklyn 99, com cenas que eu assisto exclusivamente na versão lego. O episódio 14 da temporada 5, no qual Philip Davidson (um dentista) é interrogado até, no último segundo, confessar um assassinato, por não aguentar a possibilidade de acreditarem que ele tinha tido sorte. Era imprescindível que, mais do que inocente, ele fosse visto como algo mais, alguém com poder, inteligência, qualidades muito mais glamourosas que a sorte.
Ele tinha planejado o crime perfeito, e seria um insulto ser visto como nada mais do que alguém cujo destino estava à seu favor.

Texto original
Além de me lembrar desses dois personagens, eu também li o conto em inglês, pois queria ver se, lendo 2 versões da história, eu conseguia compreendê-la com nuances diferentes. Uma das traduções logo no começo do conto me trouxe um questionamento.
Enquanto a frase “de me livrar para sempre da sua presença” trás uma ideia de que o objetivo do assassinato é matar o velho e fazer o olho de abutre parar de encarar, a versão e em inglês “take the life of the old man, and thus rid myself of the eye forever”. Esta frase, que eu posso grosseiramente traduzir como: “tirar a vida do velho, logo, me livrando do olho pra sempre”, me passa um nível de importância maior do olho na história.
Quando eu li a versão em português, tive a impressão (talvez uma interpretação incorreta) de que era o velho, mediante seu olho, que incomodava o protagonista. Por outro lado, ao ler a versão em inglês, tive a impressão de que se o protagonista pudesse, removeria o olho do velho e o esmagaria, caso fosse mais fácil, visto que o velho, de fato, parecia não ser um motivo de agonia para ele. Era somente a pessoa desafortunada que possuía o olho que era o motivo de sua agonia.
Essa possibilidade dele ser atormentado somente pelo olho, deste modo, também indicando que seu plano de assassinato não foi tão prudente quando acreditava, para mim, o faz parecer ainda mais irracional.
O seu maior medo, não é nem de viver com culpa, nem de ir para o inferno de onde ouve sons, mas sim de viver na terra como louco. Achei uma história incrivelmente instigante, embora bem curta (leria mais 100 páginas d=nesse estilo), gostei da maneira como funciona e a leve “quebra” da quarta parede, com o protagonista (ou a protagonista, como não sabemos o gênero do narrador anônimo) tentando provar sua sanidade.
— Miseráveis! — bradei. — Não precisam mais disfarçar! Confesso o crime! Levantem as tábuas! Ali, ali! É a palpitação de seu coração odioso!